Vêm aparecendo, principalmente nas redes sociais, vários textos que criticam - e/ou depreciam - quem está participando das manifestações pró-impeachment. O argumento nada mais é do que a palavra hipocrisia. Chamam de hipócritas aqueles que estão lutando contra a corrupção, mas cometem-na no dia a dia, furando uma fila, por exemplo.

Pergunto-me se os autores e "compartilhadores" desses textos diriam o mesmo se perguntados das manifestações dos caras-pintadas em 1992. O próprio Lula, como mostra o vídeo abaixo, reverenciava os protestos como um símbolo da participação democrática do povo brasileiro. A tal democracia é ótima quando convém à ideologia seguida; porém, democracia vira golpismo se é contra a mesma ideologia. 

Para perceber isso é muito simples: ao invés de começar uma conversa pedindo opinião sobre as manifestações pró-impeachment da presidente, pergunte sobre o que acha do Eduardo Cunha. A maioria das pessoas que vão dizer "FORA CUNHA GOLPISTA" serão as mesmas que você verá defendendo a Dilma por ter sido eleita democraticamente ou porque "quem fura fila não pode criticar quem se financia com dinheiro público". 

É claro que nada justifica atos corruptos, e é claro também que as pessoas deviam começar a agir de moralmente antes de exigir isso dos outros. Mas existe uma enorme distância entre furar uma fila e usar para benefício próprio um montante destinado à educação, saúde e segurança básica dos tantos brasileiros que passam metade do ano pagando impostos. É direito de qualquer cidadão criticar - não só direito como dever - um governo corrupto envolvido numa série de escândalos. Ah, antes que você, petista e leitor, diga que nos tempos do FHC era bem pior ou comece a discorrer sobre Aécioporto, não estou defendendo os tucanos, mas sim o direito de expressão. 

Panelaço contra a Dilma é golpe, contra o Cunha é democracia. Quem vocês chamavam de hipócritas mesmo?

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